Você provavelmente conhece alguém ou já ouviu falar de uma pessoa que deixou de pagar por um empréstimo e ficou inadimplente – “com o nome sujo na praça”, como costumam dizer. Talvez essa situação, inclusive, já tenha lhe ocorrido. É fácil pensar em como um devedor pode ficar inadimplente com um banco. Difícil é imaginar que uma situação como essa também possa ocorrer na Bolsa de Valores. Ainda que menos comum, é possível sim.
O artigo a seguir vai mostrar como um investidor pode ficar inadimplente com a Bolsa e correr o risco de ter sua identidade exposta em uma lista (que bateu recorde de nomes em 2021). Confira!
Como um investimento se transforma em dívida?
Quem aplica dinheiro em ações ou outro tipo de investimento negociado em ambiente de Bolsa está buscando rentabilidade e não uma dívida, certo? Na teoria sim. Muita gente compra a ação de uma empresa, por exemplo, acreditando no crescimento da companhia, que ela vai gerar lucro e dar retorno para o acionista. Esse investidor costuma ficar com as ações pelo tempo em que acredita que elas vão dar retorno.
Porém, nem todo mundo que opera na Bolsa age exatamente dessa forma. É comum que algumas operações sejam montadas e oferecidas para ganhar com a diferença de preço das ações, negociando papéis que sequer estão na carteira, e apostando no mau desempenho de uma empresa em relação a outra. O problema é que muitos investidores, seduzidos pela possibilidade de ganho alto, não se dão conta dos riscos envolvidos. No fim, o investimento pode se transformar em dívida.
Estratégias com opções
Na Bolsa, além de comprar e vender ações, também é possível fazer operações no mercado futuro e de opções. Isso acontece quando o objetivo é ganhar dinheiro com a diferença de preço entre dois ativos. É aí que entram as chamadas operações com derivativos. Funciona assim:
- o investidor compra um derivativo apostando na alta de determinado ativo;
- no mesmo instante ele vende outro derivativo apostando na queda de outro ativo;
- se tudo der certo, o investidor lucra com a diferença entre a alta do preço de um ativo e a queda de preço de outro ativo.
Como, na prática, o investidor fica sujeito às oscilações de preço de um ativo que ele não possui na carteira, ele fez uma operação alavancada. A alavancagem financeira acontece sempre quando alguém opera com recursos maiores que o seu próprio patrimônio. Porém, caso o mercado não faça o movimento esperado, a operação traz riscos elevados de perda de dinheiro.
Margem de garantia e chamada de margem
Para fazer a operação alavancada, a Bolsa exige uma margem de garantia, uma espécie de caução. O investidor pode usar os investimentos que possui na corretora, como CDB’s e títulos do Tesouro, por exemplo, para fazer operações com derivativos.
A Bolsa, então, faz uma chamada de margem. Ou seja: o investidor precisa desembolsar garantias para fazer a operação. E em situações de riscos, a Bolsa também pode fazer novas chamadas de margem, ainda maiores.
Quando há perdas, as garantias são executadas e o investidor pode ficar com saldo negativo na corretora de valores. E como nas corretoras não existe cheque especial, ele precisa cobrir esse prejuízo o quanto antes para não se complicar.
A dívida é com a corretora
Se a conta ficar negativa depois da operação, a corretora poderá cobrar uma multa do investidor. O valor varia de acordo com o tamanho do saldo devedor – e quanto maior ele for, maior é a multa referente ao período em que o investidor ficou devendo. Além disso, o CPF do devedor pode ser suspenso e a corretora poderá bloquear a conta, impedindo novas operações.
Com o débito quitado, o investidor pode voltar a operar normalmente, mas se ele não pagar a dívida, pode entrar na lista de inadimplentes da Bolsa.
A lista de devedores da Bolsa
Quando o investidor fica com a conta negativa na corretora, a dívida pode ser protestada pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Isso também pode acontecer se o devedor pagar o valor principal, mas não quitar os juros referentes às margens de garantia, o que também é bastante comum.
Nos dois casos, a Bolsa coloca o nome desse investidor em uma lista divulgada periodicamente, com os nomes dos inadimplentes. Quem está nessa relação não consegue operar em outras corretoras, porque já está com o CPF bloqueado. Para sair da lista, basta quitar a dívida.
Com o número de investidores pessoa física chegando a 4 milhões em 2021, a lista de devedores da Bolsa bateu recorde de páginas por mais de uma vez no ano. A dica para não fazer parte dela é evitar operações excessivamente alavancadas e entender o seu perfil de investidor antes de assumir riscos maiores.